domingo, 9 de agosto de 2015

O simbolismo da pedra

por Frater Zelator ( SI - SII - MESA)

A imagem de uma pedra, principalmente quando de grandes dimensões, sempre provocou admiração no ser humano, como podemos verificar pelas muitas construções megalíticas dos antigos povos. Existem vários exemplos, como as construções célticas e Druídicas da França e Grã Bretanha: dólmens, menires, e o mais importante calendário de pedra do mundo - Stonehenge. As pirâmides do Egito e dos povos das Américas não podem ser esquecidas, assim como todas as maravilhas do mundo antigo que até hoje nos espantam por sua beleza e estabilidade.

Não somente as construções grandiosas foram objeto das homenagens do homem no passado. As pedras em geral foram reverenciadas nas manifestações religiosas tanto pela sua solidez como pela sua durabilidade, denotando a firmeza inabalável que é o atributo da própria Divindade, fossem elas preciosas ou não. Os Cavaleiros, os S I , sabiam da importância que a pedra possuía, já que a mesma deixava mensagens que se eternizavam. Seus símbolos em pedra são encontrados em todos os países do mundo pelo qual passaram.

Os homens procuraram sempre edificar com pedras os Templos dedicados aos seus deuses, onde em alguns casos mais primitivos proibia o povo de construir suas habitações com outro material que não fosse a terra cozida ao sol. Como elemento tirado diretamente da Mãe Terra, a pedra possuía as qualidades necessárias para que as casas ou quaisquer edificações mantivessem as qualidades e o clima do "útero" terrestre, ou seja, as grutas e cavernas, onde se realizavam rituais e onde moraram os primeiros homens. Isto se deve principalmente pelo fato de as primeiras religiões serem de cunho naturalista, com rituais ao ar livre. Tais ligações com a força telúrica existem também nas Iniciações tradicionais no que diz respeito ao simbolismo da Câmara de Reflexões, ou àquele lugar isolado em que o candidato fica ao abrigo unicamente de sua própria consciência antes de passar pelo Portal que fica entre Colunas.

Em toda parte na antigüidade a Arquitetura foi uma arte sagrada e muito intimamente ligada aos sacerdotes e à religião. Na Idade Média, com os construtores operativos das grandes catedrais (também conhecida como Arte Real dos Talhadores de Pedra), a pedra ganhou notoriedade no ocidente, mais particularmente na Europa. Tais "obreiros do Divino" foram inovadores com o estilo gótico, tendo adquirido junto à Ordem dos Templários os fundamentos desse estilo de construção que ainda hoje vemos nas Catedrais mais famosas do mundo, como Notre Dame e Chartres, ambas na França. A esses construtores do passado sucederam os Construtores e Cavaleiros de hoje em dia, ditos tradicionalmente assim por trabalharem simbolicamente e não mais nos canteiros de obras. Nas antigas Fraternidades, o Aprendiz de ofício ocupava o grau mais inferior da escala entre os operários.

Assim, constituindo a Arquitetura uma das bases do simbolismo tradicional, a pedra nele ocupa abundante representação, simbolizando, em geral, todas as obras morais e todo material da inteligência humana em prol da evolução interna e da humanidade. Estes materiais são empregados para fins simbólicos e de evolução do homem como um todo, como símbolo da própria sociedade, recebendo várias denominações de acordo com seu simbolismo inerente. A primeira denominação corrente diz respeito à Pedra Bruta, que é o emblema da pedra informe e irregular que desbastam aqueles que ainda têm muito a aprender e evoluir. Na verdade, todos nós. Tal pedra é o símbolo da idade primitiva e, por conseguinte, do homem sem instrução e em estado natural, bruto em essência, necessitado de mais Luz e conhecimentos para melhor servir. É a imagem da alma humana antes de ser constituída na sua ideal forma cavaleiresca.

O Cavaleiro despertando em seu coração o sentimento de sua própria dignidade e incentivando-o ao estudo da Verdade. Aqueles que se encontram na senda devem sempre lutar contra os inimigos naturais e internos do próprio homem que são: as paixões mundanas, a luta contra os hipócritas, os desleais, os fanáticos e os ambiciosos, e os que especulam com a ignorância e o obscurantismo, buscando combatê-los com vigor. Esta é a antiga batalha entre a Luz e as trevas, travada desde sempre dentro e fora da Alma humana e tornada histórica pelos antigos Cavaleiros, representantes da busca do Graal, mas que lutam neste mundo para tomá-lo a si renovado pela Luz Crística. No simbolismo antigo via-se comumente uma Pedra Bruta, sem forma definida, colocada no caminho do Iniciado na entrada e junto de uma das duas colunas do Templo, conhecidas na tradição por (J) e (B), estas símbolos da dualidade deste mundo manifestado.

Tão logo um novo Irmão fosse recebido a primeira fresta da Luz, o Mestre acompanhava-o até a citada Pedra Bruta onde ensinava-lhe a dar os golpes misteriosos com os quais deveria chamar no futuro às portas dos Templos, explicando-lhe ao mesmo tempo o seu significado Crístico: busca e encontrarás; chama e te abrirão; peça e te darão. 
O Cavaleiro de ontem e de hoje retira as asperezas da Pedra Interior, o que equivale à faculdade de apreciar com retidão; é o julgamento sem ação e sem força digno dos Iniciados. O cinzel é equilibrado pela firmeza e pela direção dada pelo malho. Um não pode passar sem o outro e o desenvolvimento destes símbolos cria um equilíbrio no psiquismo do Iniciante. Se o malho existisse sozinho seria uma força cega que, batendo na pedra, quebrá-la-ia em mil pedaços em lugar de lapidá-la. A vontade é uma força admirável, porém, se ela não for conduzida por um julgamento esclarecido, o cinzel, se torna má, tanto para aquele que a possui como para aqueles que sofrem os seus efeitos.


Todo este engajamento Iniciático obriga o novo Cavaleiro a repensar sua vida, suas atitudes do passado e do presente, moldando uma nova personalidade para o futuro. Alguns antigos Iniciados afirmavam, também, que a Pedra áspera era análoga à matéria-prima dos Alquimistas, devendo ser talhada com cuidado para que chegasse a apresentar a forma de um cubo, uma forma mais perfeita e que estaria em melhores condições de servir e de "encaixar-se na construção da Humanidade". A Alma transmutaria assim todos os seus defeitos em virtudes, tornando-se o homem comum no Revivido.

Talvez por isso os Antigos tenham gravado nas pedras das várias construções tantos símbolos, pois o homem que renasce na Iniciação não morre jamais, como jamais morrerão as obras que servem como verdadeiros livros de pedra para a posteridade.

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