Palestra Proferida pelo Ir:. DUPUY (Lúcio Nelson Martins)
Cadernos do CCCPM- Centro Catarinense de Cultura e Pesquisas Maçônicas - Série Ritos -Março de 2001
O RITO MAÇÔNICO
Palavra de origem latina, significando RITUS um uso ou costume aprovado. É uma cerimônia ou conjunto de cerimônias que na Maçonaria significa o método de conferir a Luz Maçônica por uma coleção e distribuição de graus. É, em outras palavras, o método e a ordem observadas no governo de um Rito Maçônico.
A legislação das Potências Simbólicas Maçônicas (Grandes Orientes) permitem, geralmente, às suas Lojas, adotar o sistema de trabalho de qualquer Rito que lhes convenha, à condição de ser ele um Rito reconhecido e contanto que, qual-quer que seja o número de seus graus, não possa aspirar à supremacia sobre outro. A Maçonaria é composta de vários Ritos reconhecidos e de outros que não o são. Este conjunto de fórmulas e normas próprias de cada Rito está prescrito por um RITUAL e é nele que vão se encontrar e mesclar as duas linhas básicas da cultura maçônica: O Simbolismo e a Liturgia: - é através dele que se dinamizam e se amalgam os preceitos fundamentais de que a cultura maçônica é totalmente simbólica e que o seu desdobramento se dá sobre uma linha formal, cerimoniosa e disciplinada. Paralelamente à linha rígida e formal (litúrgica e simbó-lica) há aberturas para livre exercício da personalidade do Maçom, com todas as garantias; são os momentos não escritos onde se franqueia a expressão e a opinião. Pode-se dizer que este tercei-ro instituto da dinâmica ritualística se completa a tríade maçônica:
SIMBOLISMO
LITURGIA
PERSONALIDADE
De tal maneira se mostrou importante o Ritual na Maçonaria contemporânea que se pode afirmar que sem ele, a Instituição não mais existiria.
ADONHIRAM
Não podemos falar no Rito Adonhiramita sem antes falarmos sobre Adonhiram, pois sem dúvida alguma tal Rito está ligado a este personagem e a sua lenda. Adonhiram é o nome do personagem mais importante encontrado nas Lendas da Ordem Maçônica.
Há quem admita ser Adonhiram um cognome do próprio Hiram, mas nem a Bíblia, nem os Rituais admitem a confusão, embora ela exista, pois Cassard, grande estudioso maçônico distin-gue na maioria de seus escritos o seguinte:
“A verdadeira palavra é HIRAM ou ADONHIRAM, composta do pronome ADON (Dominus) que os Hebreus usam freqüentemente quando falam de Deus. Este pronome agregado a palavra HIRAM, faz-se ADON/HIRAM, que significa: HIRAM o consagrado ao Senhor; o bom Senhor ou o Divino Hiram, donde adveio o título de “MAÇONARIA ADONHIRAMITA”.
Relativo a controvérsia existente entre vários autores, ficamos com a versão do Amado Irmão DEMÓSTENES relativo a figura central da Lenda: “A explicação que hoje se dá sobre ADONHIRAM, como sendo a fusão de ADON (que significa Senhor) e HIRAM, o arquiteto, pa-rece-nos apenas uma fórmula de conciliação com os demais Ritos, onde este personagem é a figura central da Lenda do Terceiro Grau. Tal explicação foi a fórmula encontrada para que o Rito não fosse tido como irregular e, por isso, viesse a ser banido da prática nas diversas Obediências. Ao longo dos anos essa interpretação acabou sendo aceita, e nem sequer é contestada.
A verdade, porém, é que ADONHIRAM não é HIRAM e o Rito jamais abriu mão dessa verdade, inclusive porque nunca a renegou.
É importante lembrar que HIRAM, o filho da viúva, era o arquiteto, o homem que cuidava dos projetos dos cálculos e a quem cabia apenas a orientação e fiscalização da obra. Já ADONHIRAM era a pessoa que recrutava os operários, selecionava-os, dividia-os, segundo suas capacidades ou necessidades da obra e, por certo, também lhes pagava o salário, até porque era o Tesoureiro de Salomão. Diante disso, é mais provável que eventuais divergências com os operários tivessem lugar com ADONHIRAM e não com HIRAM, coisa que os Mestres Maçons podem entender facilmente, em função de seu conhecimento da Lenda do Terceiro Grau”.
RITO ADONHIRAMITA
A Maçonaria Adonhiramita surgiu com a publicação, em 1744 da primeira edição e, logo a seguir, a segunda edição, em 1747, do trabalho de Louis Travenol, que com o nome de Leonardo Gabanon, mandou imprimir o seu “CATECHISME DE FRANC MAÇONS ou LE SECRET DES FRANC MAÇONS” (Catecismo dos Franco- Maçons ou O Segredo dos Franco-Maçons) onde imputava o nome de Adonhiram sobre o qual o grau de Mestre devia ser fundado, trocando-o pelo de Hiram.
Em 1780 foi republicado, na França, o “Catechisme de Franc-Maçons” por outro autor que quase nada acrescentou ao já existente, sem citar o nome do autor das primeiras edições, fato que veio provocar grande irritação em um eminente historiador da época, que usando o nome histórico de Louis Guilleman de SAINT-VICTOR procurou produzir algo sério. Após exaustivos estudos e pesquisas sobre as religiões e os mistérios da antiguidade, escreveu em 1781 a “Recueil Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita) publicada a primeira parte em 1782 abrangendo os quatro (4) primeiros graus.
A Coletânea foi completada com a publicação, em 1785, da segunda parte, relativa aos Altos Graus do Rito, cuja hierarquia se apresenta desde então como se segue:
Primeiro grau: APRENDIZ;
Segundo grau: COMPANHEIRO;
Terceiro grau: MESTRE;
Quarto grau: MESTRE PERFEITO;
Quinto grau: PRIMEIRO ELEITO ou ELEITO DOS NOVE;
Sexto grau: SEGUNDO ELEITO ou ELEITO DE PERIGNAM;
Sétimo grau: TERCEIRO ELEITO ou ELEITO DOS QUINZE;
Oitavo grau: APRENDIZ ESCOCÊS ou PEQUENO ARQUITETO;
Nono grau: COMPANHEIRO ESCOCÊS ou GRANDE ARQUITETO;
Décimo grau: MESTRE ESCOCÊS;
Undécimo grau: CAVALEIRO DA ESPADA ou CAVALEIRO DO OCIDENTE ou DA ÁGUIA;
Duodécimo grau: CAVALEIRO ROSA CRUZ.
No final da edição de 1785 Louis Guillemain de SAINT-VICTOR publicou ainda a versão do alemão para o francês de um Rito chamado de Noaquita ou Cavaleiro Prussiano” de autoria de um Maçom de nome Berage. Esta publicação fez com que Tory e Ragon classificassem este Rito como o décimo terceiro grau da Maçonaria Adonhiramita. Entretanto no dizer de Mackey, esta classificação feita por ambos é totalmente errônea já que não existe qualquer ligação deste último grau com a série precedente e que o próprio SAINT-VICTOR declarou positivamente que o grau de CAVALEIRO ROSA-CRUZ é o “nec plus ultra” – o ápice e o término – de seu Rito.
Em 1787, na Filadélfia (USA) a Editora Philarethe, situada a rua I’Equerre Aplomb, publicou, em francês, as duas edições do Recueil Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite, edição esta, que tornou-se a “BÍBLIA” dos Maçons Adonhiramitas.
A partir desta edição, o Rito Adonhiramita teve ampla expansão na Europa, particularmente na França, sua terra de origem, e de onde se difundiu para Portugal, chegando a dominar o Grande Oriente Lusitano e exportando a todas suas Colônias.
Todavia sua predominância foi efêmera, passando a desvanecer-se pouco a pouco, não só em conseqüência da dispersão de seus praticantes, engalfinhados em lutas partidárias, como também devido a uma série de eventos políticos que repercutiram danosamente contra as organizações maçônicas de então.
O RITO NO BRASIL
No Brasil o Rito Adonhiramita foi introduzido regularmente em 1801 com a fundação da Loja Reunião e consolidada em 15 de novembro de 1815, data da fundação da Loja Comercio e Arte, por Maçons obedientes ao Grande Oriente Lusitano. Foi portanto, o primeiro Rito a desenvolver-se regular e continuadamente no Brasil onde foi e é praticado, ininterruptamente, até os dias de hoje. A Instalação definitiva da Loja Comercio de Artes, ocorreu no dia 2 de junho de 1821. Nesta mesma data, os seus Obreiros, preocupados com a criação de uma entidade maçônica de caráter nacional, cogitaram desmembrá-la para fundarem mais duas Lojas: a Esperança de Niterói e a União e Tranqüilidade. Compondo, destarte, um quadro de três Oficinas - Base, àqueles Irmãos estavam preparando as condições propícias para o nascimento do grande oriente brasílico que seria o baluarte de nossa Independência, de que foi artífice e fiadora a Maçonaria Adonhiramita, embora, as duas Lojas filhas só seriam fundadas quando da criação do Grande Oriente, em 1822, quando adotaram o Rito Moderno por ser o Rito adotado pelo Grande Oriente de França.
Até 1873, o Grande Oriente do Brasil manteve o governo não só dos graus simbólicos como também dos que compunham os Corpos Filosóficos. Nesse ano o GOB abriu mão dos graus Filosóficos, transferindo-os à jurisdição de um Alto Conselho para cada Rito. Assim, o Decreto nº 21 do GOB, de 24 de abril de 1873, cria, para o Rito Adonhiramita, o Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas que, acrescido de mais um grau, o de cavaleiro Noaquita ou PRUSSIANO, se transforma em sua Grande Oficina-Chefe a quem coube o governo dos graus Filosóficos (do 4º ao 13º).
É interessante observar que até a promulgação da Constituição de 1951, o Grande Oriente do Brasil, embora tenha criado as Oficinas-Chefe para cada Rito, não cedeu os seus governos e o Grão Mestre era também o Grande Comendador, o Grande Primaz e o Grande Inspetor das Oficinas-Chefe.
CONCLUSÕES
O Rito Adonhiramita está se expandindo de forma vertiginosa em nosso País e nós podemos afirmar, com toda a convicção, que todos os Ritos Maçônicos são iguais no trabalho da formação apostólica do homem Maçom. Não há maior nem menor.
Como os romanos diziam que “todos os caminhos levam a Roma” – também podemos dizer que todos os Ritos conduzem a um mesmo fim: - a edificação do Homem Maçom para servir à Ordem, à Pátria e a Humanidade.
Nós, como praticantes deste Rito azul, o ADONHIRAMITA, com votos de crescente progresso e prosperidade porque ele foi um dos inici-adores da vida maçônica no País, e ajudou a estabelecer os fundamentos e o arcabouço deste edifício imperecível que é a Maçonaria Brasileira.
BIBLIOGRAFIA:
1. Boletins do MUI POD:. E SUBL:. GR:. CAP:. DOS CCAV:. NNOAQ:. PARA O BRASIL;
2. Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita – de LOUIS GUILLEMNN DE SAINT-VICTOR;
3. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Vol. IV – de Nicola Aslan;
4. A História e o Registro Civil da Humanidade – de Francisco Sobreira de Alencar (Castelo Branco);
5. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons – de Alec Mellor.
6. Breves Apontamentos sobre o Rito Adonhiramita – de Edson Nelson Ubaldo (Demóstenes)
7. Trabalho de Irmão da Loja LÉDIO MARTINS sobre o Rito Adonhiramita;
8. 4° Volume – Instruções para as Lojas Simbólicas – Sublime Grande Capítulo Adonhiramita do Brasil
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