Devido a uma ordem de precedência, aproximamo-nos à consideração do simbolismo ligado a uma importante cerimônia no ritual do primeiro grau da Maçonaria, que se refere à extremidade nordeste da Loja. Nessa cerimônia, o candidato se torna o representante de uma pedra angular espiritual. Dessa forma, para a completa compreensão do verdadeiro significado da emblemática cerimônia, é essencial que investiguemos o simbolismo da pedra angular.A pedra angular, como o alicerce sobre o qual o edifício todo deve supostamente permanecer, é, sem dúvida, a pedra mais importante de toda construção. Ao menos, é assim considerada pelos maçons operativos. A pedra é colocada em cerimônias majestosas, geralmente com ajuda de maçons especulativos, e ela sempre deve conferir dignidade à ocasião; o evento é visto pelos operários como uma fase importante na construção do edifício.
Às várias propriedades que são necessárias para constituir uma verdadeira pedra angular – sua firmeza e durabilidade, sua forma perfeita, e a peculiar posição que assume como laço entre as paredes – nós devemos atribuir o fundamental caráter que ela atingiu na linguagem do simbolismo. Apenas a Maçonaria, de todas as instituições existentes, preservou sua antiga e universal conotação, e não poderia – como se pode supor – ter negligenciado a adoção da pedra angular entre seus mais estimados e admiráveis símbolos. utilizando-a como referência de muitas de suas significativas lições de moralidade e verdade.
A principal diferença entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa é que enquanto a primeira se ocupou com a construção de um templo material, a última se dedica a erguer uma casa espiritual – uma casa não construída com as mãos – na qual as pedras são substituídas pelas virtudes do coração, pelas puras emoções da alma e pelos ardentes sentimentos que brotam das fontes ocultas do espírito.
O aspirante à luz maçônica – o Neófito – em sua primeira entrada no vestíbulo sagrado se prepara ao trabalho consagrado de erigir dentro do peito uma morada adequada para o Espírito Divino, então começa a nobre obra ao se tornar ele próprio a pedra angular sobre a qual o edifício espiritual deve ser construído.
Aqui, então, inicia-se o simbolismo da pedra angular.
A pedra angular com sua superfície perfeitamente quadrada é, em sua forma e conteúdo sólido, um cubo. O quadrado é um emblema da moralidade, ou do estrito desempenho de cada obrigação. O cubo, na linguagem do simbolismo, denota verdade.
A cerimônia do extremo nordeste da Loja, uma vez que deriva todo valor típico de seu simbolismo da pedra angular, indubitavelmente pretendia retratar, em sua linguagem consagrada, a necessidade de integridade e estabilidade de conduta, de verdade e retidão de caráter, de pureza e santidade de vida, que, somente naquela época e lugar, o candidato é mais pressionado a manter,
A pedra angular espiritual é depositada no extremo nordeste da Loja, pois ela é o símbolo da posição do neófito, o representa em sua relação com o mundo. Do mundo profano, ele acabou d emergir. Algumas de suas imperfeições ainda estão consigo; restam ainda algumas arestas por aparar; ele ainda pertence ao norte. Mas está buscando a luz e a verdade; a trilha pela qual ele enveredou vai em direção a leste. Ele não é totalmente profano, nem completamente maçom. Se ele fosse inteiramente do mundo, o norte seria o lugar para encontrá-lo – o norte que é a região da escuridão. Se ele estivesse completamente inserido na ordem – caso fosse um Mestre Maçom -, o leste o receberia – o leste, que é o local da luz. Mas ele não é nenhum dos dois; é um Aprendiz, apegado ainda a alguma ignorância do mundo, somente parte da luz da ordem incide sobre ele. A mistura da escuridão que emana do norte com a aproximação reluzente do leste – é bem expressada, em nosso simbolismo, pela posição adequada da pedra angular espiritual no extremo nordeste da Loja. Uma superfície da pedra fita o norte, e a outra, o leste. Ela não está completamente em uma parte nem totalmente na outra e à medida que este é um símbolo de iniciação não completamente desenvolvido – incompleto e imperfeito – ele está adequadamente representado pelo recipiente do primeiro grau, no exato momento de sua iniciação.
A força e a resistência da pedra angular também foram eminentemente sugeridas nas ideias simbólicas. Para cumprir com o seu propósito como fundação e apoio da construção sólida que ela precede, deve ser usado um material que conseguirá suportar todas as outras partes do edifício sobre si. Sendo assim, quando o “oceano eterno cujas ondas são anos” tiver engolido todos aqueles presentes na construção do prédio, no vasto turbilhão de sua corrente sempre fluente; e quando, geração após geração, ele se for, e as pedras do edifício arruinado começarem a desmoronar, atestando o poder do tempo e da repentina natureza de todas as incumbências humanas; a pedra angular ainda restará para contar, através de suas inscrições, de sua forma e beleza, para qualquer um, que já existiu naquele lugar, talvez então desolado, uma construção consagrada a algum nobre ou divino propósito e pelo zelo e liberalidade de homens que agora não vivem mais.
Por consequência, a resistência e a durabilidade da pedra angular, em contraste com a queda e a ruína da construção sob a qual as fundações foram colocadas, lembram o maçom que, quando a casa terrena de seu tabernáculo se for, ele terá dentro de si uma fundação segura de vida eterna – uma pedra angular de imortalidade -, uma emanação do Divino, que deve sobreviver à tumba e ascender, triunfante e eterno, acima do pó pútrido da morte e da sepultura.
É assim que o aprendiz do simbolismo maçônico é lembrado pela pedra angular – em forma, posição e permanência -, através das significativas doutrinas da obediência, virtude e verdade – que compõem o grande ensinamento da Maçonaria.
Resumo do capítulo XXIII do livro O Simbolismo da Maçonaria, Vol. 2, de Albert Mackey.
Nenhum comentário:
Postar um comentário