quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Lei Iniciática do Silêncio

Por: Antonio Rocha Fadista - M.·..I.·.
Platão, chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, assim se expressou: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem facilmente pelo seu modo de falar”.

O pensamento do filósofo Iniciado nos oferece uma excelente oportunidade para uma profunda reflexão, principalmente para todos os que integram a Ordem Maçônica.

Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos, por serem elas a expressão do poder do pensamento e da transmissão das nossas idéias e sentimentos, tornando-se assim o centro emissor de vibrações tanto positivas quanto negativas.

Existe um elemento que realmente identifica o Homem como sendo a síntese de todas as forças vitais, como o ser que interliga todos os planos, do mais denso como o mineral, ao mais sutil, como o divino, que cada um tem dentro de si. Este elemento é a palavra, intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana.

No mundo profano a palavra, falada ou escrita, é usada indiscriminadamente e muitas vezes é usada mais na prática do mal do que do bem. A sociedade humana está cheia de palavras que ofendem, que humilham, que magoam e que denigrem a honra do próximo. Se se trabalhasse mais e se falasse menos, com certeza que a humanidade teria uma vida comum mais evoluída e mais civilizada; infelizmente, existem palavras em excesso não só no mundo profano como também nos Templos Maçônicos. 

Tal situação é inconcebível em um Maçom, orientado que é para refletir sobre a realidade e sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser humano.

Não por acaso a doutrina Maçônica reserva o silêncio ao Aprendiz, de acordo, aliás, com a Tradição Pitagórica. 

A entrada da Escola fundada pelo Filósofo de Samos, na cidade de Crotona - onde o isolamento do mundo externo era total - exibia a seguinte advertência: “Proibida a Entrada de Profanos”. Esta Escola tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. Os neófitos, proibidos de falar, eram só ouvintes e cumpriam um período de observação, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. Para atingir o Mestrado, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Sem dúvida, constitui uma grande prova para todos e também para o Aprendiz, ouvir os Companheiros e os Mestres sem poder falar. Chílon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia: calar.

No mundo maçônico, a dimensão da palavra falada e escrita não é diferente. Na Maçonaria, a relação palavra-linguagem assume tanto os fatos exteriores quanto o ato individual, como pensamento puro que se exprime através da fala ou da escrita.

No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos. 

Ao entrar em nossa Sublime Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e espelhar o equilíbrio interno do orador. Como dizia o Irmão Dante Alighieri na Divina Comédia, exortando o personagem Metelo : “usa a tua palavra como um ornamento”.

À primeira vista, o silêncio do Aprendiz poderia parecer um condicionamento e um castigo; na realidade, o silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos. Além de exercitar a autodisciplina, em seu silêncio o Aprendiz apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê. Na realidade, o Aprendiz dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, ele analisa, critica e tira suas próprias conclusões: em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula o Aprendiz a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real.

Ao cruzar as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo os conceitos de liberdade total, sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o Aprendiz paulatinamente aprende a controlar os seus impulsos pela prática espartana do silêncio, aprimorando o seu caráter e preparando-se para ser mais um líder da Magna Obra de construção da sociedade do futuro, na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária.

Tudo se resume na prática da Lei do Amor. O amor se oferece; não se pede e também não se exige. Certamente que o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais do que falam, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos.

Em tempo: o Aprendiz não só pode, como deve se manifestar, principalmente quando tiver informação relevante sobre qualquer candidato à Iniciação. Basta pedir a palavra ao Vigilante de sua coluna.

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