domingo, 27 de dezembro de 2015

NAS ORIGENS DA MAÇONARIA

Por Pierre Mollier - Tradução José Filardo

A Maçonaria nasceu oficialmente em 1717 na Inglaterra, mas as circunstâncias do nascimento parecem bastante obscuras. Conhecem-se os acontecimentos antes dessa data, e que fizeram a conexão entre os maçons operativos da Idade Média e os maçons mais intelectuais do Século XVIII ?

O ano de 1717, marca efetivamente a criação da primeira Grande Loja em Londres, e em seguida, a implementação do sistema maçônico que vais se perenizar até hoje – com algumas mudanças, é claro. A origem da Maçonaria se situa, portanto, na Inglaterra e todo o desafio é entender como uma fraternidade profissional – a dos maçons –  transformou-se em uma sociedade de reuniões e de convívio social. Este fenômeno é – deve-se repetir – exclusivamente britânico  na França, por exemplo, os Companheiros do Dever não se transformaram em Maçonaria.  

A Scotland está no centro dessa transformação, a partir do final do século XVI  e durante todo o século XVII. A data mais antiga que podemos afirmar para o que irá se tornar a Maçonaria é 1599. Naquele ano, William Shaw, mestre de edifícios do rei em Edimburgo dá novos regulamentos aos pedreiros. Estes ” Estatutos Schaw” apresentam uma nova concepção de loja que vai se tornar aquilo que nós conhecemos ainda hoje. Ele não está necessariamente ligada a um canteiro de obra temporário, mas se vê dotada  de uma personalidade moral e sustentável. É assim que de 1599 data a primeira ata de que dispomos por ocasião do relatório de trabalhos da Loja Haven de d’Aitcheson – uma aldeia na costa, a cerca de 10 km a leste de Edimburgo – em 9  de Janeiro de 1599. A partir dessa data, uma série de documentos fazem a vinculação com a atual Maçonaria.  

Isso posto, é claro que é muito provável que nem tudo foi inventado em 1599.  Assim, os estatutos Shaw incorporam elementos dos “Antigos Encargos”, os regulamentos dos pedreiros da Idade Média, o que significa que devia muito bem existir uma ligação entre os pedreiros medievais e os maçons do século XVI , mesmo que ele não esteja documentado.

Existe, portanto, uma ligação real entre os pedreiros de ofício, chamados maçons operativos, e os maçons filósofos do século XVIII , chamados ” Maçons especulativos “?

Esta é uma das grandes controvérsias que dividem os historiadores da maçonaria desde alguns anos. Para alguns, a Maçonaria é a herdeira de uma maçonaria operativa que foi gradualmente transformada em uma sociedade mais simbólica. Para outros, a Maçonaria é um produto puro do século XVIII  nada fazendo além de retomar  antigas tradições de volta para se revestir de legitimidade.  

Por trás desses debates escondem-se pressupostos ideológicos  : Os defensores da continuidade são frequentemente influenciadas pelo filósofo René Guénon, que acredita que a dimensão iniciática da Maçonaria vem desta experiência de confronto com a matéria dos maçons de antanho. Se esta ligação não existisse mais, a dimensão iniciática da Maçonaria desapareceria. Por outro lado, aqueles que acreditam que tudo foi criado no século XVIII  percebem a Maçonaria como  um produto do Iluminismo. O historiador que eu sou estima que a verdade está entre as duas correntes  : se está claro que a primeira Grande Loja em 1717 corresponde a um espírito e a um novo projeto, os materiais que ele usa são, sem dúvida, diretamente retirados das tradições dos maçons de ofício, ainda bem vivas.

Como explicar este apego tão forte aos pedreiros medievais que, embora eminentemente talentosos, eram em sua grande maioria analfabetos, enquanto os maçons do século XVIII  representam uma elite social?

Temos uma concepção caricata dos maçons operativos. Temos de sair do estereótipo moderno do homem com as grandes mãos calejadas, apenas bom para quebrar a pedra, em relação ao maçom intelectual. O corte de pedra, certamente, supõe uma certa força física, mas também uma verdadeira habilidade em geometria, e até mesmo um ramo da geometria particularmente complicado, a geometria descritiva subjacente à estereotomia. Quem já teve a oportunidade de admirar os esboços preparatórios para o corte de pedras fica chocado com sua sofisticação e delicadeza. Até o século XVIII, os arquitetos são ainda muitas vezes antigos mestres maçons.  

Sendo esse o caso, pode-se perguntar por que somos maçons livres, e não padeiros livres ou jardineiros livres, profissões igualmente honradas? Sem dúvida porque desde o Renascimento, a arquitetura goza de grande prestígio. Ela é considerada uma atividade que mobiliza conhecimentos universais. Os tratados de arquitetura deste período são, ao mesmo tempo, muito técnicos e filosóficos. Um arquiteto deve ser, igualmente, de certa forma, médico – precisa velar pela higiene pública em um edifício, sua ventilação, sua luminosidade… – músico – hoje diríamos engenheiro acústico – para que o edifício tenha a  ressonância adequada,  etc. Há um lado Prometeano na arte de construir e, portanto, no ofício de maçom. Além disso, até o século XVIII , a cultura arquitetônica fazia parte da cultura geral  : todo intelectual devia dominar as noções básicas.

FONTE: BIBLIOT3CA

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